Dayana:

Acordamos 04:30, arrumamos nossas coisinhas e fomos para a casa do Renato filar um cafézinho - só para variar... Depois partimos para uma caminhada de uns 9/10 km até a frente da Ilha de Superagui. Uma delícia... Mato, pássaros e o alvorecer do dia. Só quando o sol nasceu de vez ficou um pouco cansativa. Em frente à Ilha de Superagüi Renato mandou um “vamos mais para frente que tem um código: aqui quem pára é turista, quem para ali mais pra frente é caiçara”. Andamos mais um pouco, paramos, colocamos as coisas no chão, demos algumas acenadinhas, conversamos, Renato deu um mergulho, eu dei outra acenada e em aproximadamente 40 minutos alguma boa alma em Superagüi percebeu que estávamos ali e foi nos buscar. Ter um barco, estar com alguém que tenha ou pedir uma carona são as formas de ir da Ilha das Peças para Superagui. Nossa carona foi com um moço responsável pelo transporte escolar de Barbados até a ilha em questão. Barbados é, segundo um visitante da ‘ilha’, “o paraíso das ostras e o lugar onde os visitantes são mais bem tratados no mundo: As pessoas te pegam no colo...” Em Superagui mandamos mais um café no Magal e depois “bora lá” montar a exposição que Leco fez para a Associação de Fandagueiros de Guaraqueçaba. Depois de umas duas horas de montagem já estávamos cansados e fazendo bobagens. Resolvemos descansar. No fim da tarde voltamos para o AKDOV para terminar o serviço e só saímos de lá às 22:30. Esquecemos, inclusive, de jantar, pode? Os comentários sobre as fotos foram ótimos. As cores das imagens chamaram a atenção de todos, principalmente o verde da banana de uma delas; rolou uma “tiração de sarro” do seu “Leonildo agarrado com outro na foto” (ele estava abraçando o irmão, mas obviamente este fato não foi discutido); o seu Alcides viu de longe as fotos na parede e achou que se tratava de uma exposição de mico-leões; era caiçara perguntando pro outro de quem era tal retrato, o outro respondendo (geralmente com informações na seguinte ordem: apelido e/ou nome, lugar que mora, parentesco, o que toca e como toca); baixaram “críticos de arte” em alguns freqüentadores do bar que falaram de umas fotos, de outras, deram alguns palpites e teorizaram sobre a montagem; e muitas histórias rolaram. Foi lindo de ver. Isso sim é imagem como instrumento de pesquisa. Quanto à instalação do trabalho do sobre-posição: - O lugar escolhido foi um pequeno gramado ao lado do AKDOV (por falta de outros locais e graças “à meia dúzia de perversos locais”). - Seu Alcides é o “homenageado” da instalação de Superagüi, tanto pelo fato de ser o fandangueiro mais velho do local quanto pelo fato de ser o pé-de-valsa local. E Renato, que já tinha sugerido durante nossa andada que colocássemos na “instalação um texto pra comunidade saber do que se trata aquilo e para os turistas a entenderem” retomou o assunto. “Não, não, argggggghhhhh!!!!!” eu pensava. E eu dizia: “Mas Renato, cada um tem a sua interpretação, a gente não precisa colocar a nossa. É ‘cultura local’, ‘uma homenagem ao seu Genir Pires’, é ‘bonito’, é ‘protesto’, é o que a pessoa quiser...”. E Renato: “Mas as pessoas precisam entender para se apropriar. Essa é a questão. Vc não pode pensar apenas como artista ou como antropóloga. Se é para comunidade ela tem que entender”. E eu: “Mas será que tem que entender o trabalho da nossa maneira para se apropriar dele? Será que é assim mesmo que tem que ser?”. Renato: “Isto é pensamento de arte contemporânea...” E por aí foi.... Até que perguntei se ele colocava só o nome da pessoa que ele representava em seus trabalhos ou escrevia um texto sobre a mesma. Respondeu que apenas colocava o nome, mas que era isto que estava chamando de texto! Ah.... Mas não é que este “mal entendido” rendeu boas questões....




 
 
 
 

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